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Idealizador do Aquário do Pantanal lamenta ter sido ‘esquecido’ na inauguração da obra na capital

Projetos foram entregues na segunda-feira (28/03).

Após 11 anos do início das obras, o Aquário do Pantanal, ou pelo menos 30% do projeto foram entregues na segunda-feira (28/03). Alívio e entusiasmo ficaram estampados entre as autoridades que se envolveram no projeto por todo esse tempo, devido ao desconforto causado pela estrutura inacabada, erguida na região nobre dos altos da Av. Afonso Pena, uma das principais da capital de Mato Grosso do Sul. No entanto, um nome foi totalmente esquecido em meio aos festejos: Pedro Spindola dos Santos, técnico agrícola que idealizou a construção do que hoje é o Bioparque do Pantanal.

Documentos — Munido de toda a documentação a respeito do projeto, Pedro coleciona tudo a respeito do projeto desde os primeiros esboços, ainda no início dos anos 1990. “Eu estava em São Paulo e fui ao Shopping Morumbi, que ainda estava em construção, e no subsolo onde havia uns aquários grandes com alguns peixes – pacus e pintados – e tinha uma inscrição assim: ‘peixes da Amazônia’. Foi daí que eu tive a ideia de fazer ali no Horto Florestal, alguns tanques e colocar alguns peixes do Pantanal para mostrar para a população. Quando voltei, encontrei lá no Parque das Nações, na época que ainda estava em construção, com o jornalista Oscar Ramos Gaspar, que é um dos grandes mentores da ideia também, e contei para ele essa história. Foi quando ele disse: ‘Vamos fazer aqui esse aquário’. Foi quando nós levamos ao governador Pedro Pedrossian esse projeto”, lembra Pedro Spindola.

Lembrança — O ‘esquecimento’ do autor da ideia pode não ser acidental. Pedro participou de diversas fases da elaboração dos projetos científico, estrutural e arquitetônico do Aquário do Pantanal. Entre os inúmeros recortes de jornal e documentos oficiais, o técnico agrícola guarda o vídeo do discurso do então governador do Estado, André Puccinelli, na cerimônia de lançamento da obra, que teve a presença de ministros de Estado e do arquiteto Ruy Ohtake – falecido em novembro de 2021 -, que assina o projeto arquitetônico. Nos agradecimentos iniciais, Puccinelli lembra que “a história (desta obra) começa um pouco antes da história mencionada pelo (então prefeito da capital) Nelson Trad Filho. Ela começa no tempo de um visionário chamado Pedro Spindola, lembra Juvêncio? (ao então senador de MS) Ele deu a ideia pra você e essa ideia ficou ao longo do tempo e hoje nós temos que rememorar também o nome daquele primeiro pensador em ter um Aquário do Pantanal”, afirmou o então governador.

Ruy Ohtake — Apesar de ter trabalhado intensamente pela viabilização do projeto do Aquário e ter sido citado pelo governador no lançamento da obra, Pedro não foi formalmente inserido nas equipes de elaboração do projeto, mas acompanhou todo o processo, inclusive junto ao arquiteto Ruy Ohtake. “Quando o Rui ficou sabendo (que eu era o autor da ideia) ele me procurou. Tanto que quando, nas três ou quatro vezes que ele esteve aqui (em Campo Grande), eu é que o buscava no aeroporto e ficamos amigos. No entanto, nessa época eu comecei a dissociar o projeto arquitetônico, que é do Rui Ohtake, da ideia original do aquário, que é minha”, afirma Pedro.

Um dos tanques Projeto Inicial "Aquário Pantaneiro"
Um dos tanques do projeto inicial “Aquário Pantaneiro” – Foto: Odil Santana

Direito — De acordo com o contrato inicial, o escritório do arquiteto recebeu pouco mais de R$ 4,5 milhões pelo projeto e assistência técnica às obras do Aquário do Pantanal. Já o autor da ideia revela que nunca recebeu nada, nem mesmo as passagens para Brasília, onde esteve para participar das negociações políticas em torno do projeto. No entanto, Pedro Espindola reconhece que não tem direito de receber valores em dinheiro pela ideia apresentada. “Recentemente eu reivindiquei, via ofício, o pagamento de direito autoral. Mas o governo respondeu negativamente, dizendo que ideia não tem direito autoral. Eu aceito, eu não vou (questionar mais isso). E aí entra essa história que, a partir de então, ninguém mais cita o meu nome. Não quero glória, mas é uma questão de justiça, para o ‘cara’ que deu a primeira ideia. Eu perdi a paternidade do aquário”, lamenta Pedro Spindola. “Agora, infelizmente, o mesmo André gravou um vídeo em que afirma que ele é o autor, já não me cita mais. Então é assim, eu estou sendo excluído do processo do aquário, sendo que, se não fosse eu, eu brinco sempre, não teria Ruy Ohtake, não teria construção, não teria nada, porque a ideia foi aquela. Eu me sinto um pouco ‘vilipendiado’, esquecido, abandonado, mas é normal, é coisa da ciumeira política”, reconhece Pedro.

a história (desta obra) começa um pouco antes da história mencionada pelo (então prefeito da capital) Nelson Trad Filho. Ela começa no tempo de um visionário chamado Pedro Spindola, lembra Juvêncio? (ao então senador de MS) Ele deu a ideia pra você e essa ideia ficou ao longo do tempo e hoje nós temos que rememorar também o nome daquele primeiro pensador em ter um Aquário do Pantanal”, afirmou o então governador André Puccinelli.”

Sonho — Mesmo reconhecendo a legalidade da resposta oficial do governo sobre não ter direitos autorais sobre a ideia do projeto, Pedro Spindola lamenta não ter sido sequer convidado a conhecer a obra inaugurada e admite o desejo de ter o nome ao menos lembrado na história do Bioparque do Pantanal. E ele acredita que isso ainda será possível acontecer, uma vez que a construção inaugurada é apenas uma pequena parte do projeto, que foi entregue para aproveitar o momento oportuno de divulgação. “Eu gostaria de estar lá”, admite.

A situação de Pedro, longe da construção e entrega do Bioparque do Pantanal, ainda pode ser alterada. Alguns parlamentares tentam interceder junto ao governo para que ele volte a participar dos trabalhos para a implantação das fases inacabadas do projeto. “Eu queria estar lá dentro, participando das coisas, principalmente na parte científica. Eu estudei psicultura, aquário eu tenho desde os 11 anos, tudo isso teve importância nessa minha ideia, então eu gostaria, óbvio, imensamente, de participar”, argumenta.

“Quando o Rui ficou sabendo (que eu era o autor da ideia) ele me procurou. Tanto que quando, nas três ou quatro vezes que ele esteve aqui (em Campo Grande), eu é que o buscava no aeroporto e ficamos amigos. No entanto, nessa época eu comecei a dissociar o projeto arquitetônico, que é do Rui Ohtake, da ideia original do aquário, que é minha”, afirma Pedro.

Selos — Uma das preciosidades documentais guardadas por Pedro Spindola está uma coleção de selos comemorativos, criados pelos Correios para a inauguração do Aquário, que chegou a ser marcada para 2014, mas não aconteceu. A série que traz figuras dos peixes do Pantanal chegou a ser lançada até na China e hoje é uma das relíquias guardadas no acervo pessoal. “Eu fui a Brasília pedir a confecção destes selos e consegui. E porque gosto muito de filatelia, juntei, ao longo do tempo, selos de peixes do mundo inteiro para a gente ter lá no aquário”, revela o idealizador do projeto.

Selos confeccionados para inauguração do projeto "Aquário Pantaneiro"
Selos confeccionados para inauguração do projeto “Aquário Pantaneiro” – Foto: Odil Santana

“Eu fui a Brasília pedir a confecção destes selos e consegui. E porque gosto muito de filatelia, juntei, ao longo do tempo, selos de peixes do mundo inteiro para a gente ter lá no aquário”, revela o idealizador do projeto.

Ciência — Deixando as polêmicas à parte, Pedro afirma que gostou da obra, pelo que viu em fotos e vídeos. Além disso, mostra sua preferência por uma proposta mais científica do que turística para o uso do local, sem deixar de reconhecer o valor do espaço entregue nesta semana. “Na minha visão, do meu projeto, a minha ideia é que tivesse lá uns cinquenta aquários grandes, cada um com os peixes, de acordo com o projeto, e a cobertura podia ser de carandá, coberto de palha, para mim não interessa a cobertura, e sim a parte científica, dos peixes, da pesquisa, do acompanhamento. Mas aí deu-se a primazia à obra, e contrataram um projeto arquitetônico fabuloso, maravilhoso, mas não era necessário aquilo. O necessário era a parte de dentro, científica. E a gente que é da parte científica quer ver essa parte andando, o que ainda não aconteceu”, reitera.

Defesa — Como “pai” da ideia do Aquário, Pedro defende a obra dos críticos que apontam que o recurso poderia ter sido usado na construção de escolas ou hospitais. “Governo é assim, tem verba para hospital, verba para a saúde, verba para escola, tem verba científica, não está se usando dinheiro de outra atividade básica e fundamental. Está usando um dinheiro para o turismo, para a economia. Esse projeto do Aquário tem cinco ou seis finalidades, ele é turístico, ele é econômico, ele é social, ele é científico, é tudo, reúne tudo em um só”, finaliza.

Assista na integra a entrevista com Pedro Spindola dos Santos, técnico agrícola que idealizou a construção do que hoje é o Bioparque do Pantanal.

Colaborou: Euclides Fernandes

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