A pandemia representou mudanças e ressignificações para muita gente, e com a artista plástica Camila Kipper não foi diferente. Anteriormente mais habituada a pinturas a óleo, com o isolamento social e o fechamento de seu ateliê, ela começou a desenvolver trabalhos em aquarela, técnica que acabou aprimorando a ponto de propor uma exposição só com esses trabalhos. É a mostra “Éden”, que será inaugurada nesta terça-feira (8), às 19 horas, na Galeria de Vidro. “A tinta óleo tem um cheiro forte, e como fiquei reduzida ao meu apartamento, comecei a desenvolver trabalhos em aquarela. Tive que reduzir também os formatos, de telas enormes para quadros pequenos”, conta Camila.
O que poderia ser visto como um obstáculo logo se tornou uma oportunidade de a artista, que soma 14 anos de experiência na área, explorar uma nova técnica. “Não é uma técnica fácil, é considerada por muitos artistas como uma técnica de estudo, por não permitir erros. É difícil ter controle, e o papel não aceita correções. Uma boa aquarela é como ‘um erro que deu certo’”, explica Camila. Apesar de, como professora, ensinar técnicas diversas, ela escolheu o abstracionismo como norte de seu trabalho autoral. “O abstracionismo é uma desconstrução do figurativo. A figuração tem uma norma, tem regras que você precisa obedecer, já o abstrato não. Então o abstrato veio como essa força para mim, de libertação de um desejo de realizar, de fazer, de não querer copiar, mas de fazer algo que não existe, que vem de mim e que se transforma a partir do olhar de cada indivíduo”, define a artista.
Já o tema da exposição, “Éden”, apesar da alusão ao paraíso das escrituras, ressignifica esse conceito para falar sobre natureza e sobre celebração ao feminino. “Sou muito embasbacada com as belezas naturais, desde pequena ficava olhando as flores e pensando que eram uma expressão do divino. No meu trabalho, mesmo abstrato, tem uma questão forte com as cores e com a natureza, são florais sem ser, pássaros sem ser pássaros”, afirma Camila. “Eu sempre tive, também, essa força de questionar por que a mulher não é reconhecida, não só no mercado de trabalho, mas na sociedade em geral, falta um reconhecimento do potencial feminino. Pensando sobre como a gente usa e abusa dos recursos naturais, o tema ‘Éden’ é uma provocação que eu faço, é uma fusão do feminino e da natureza, porque são seres constantemente desrespeitados”, define.
Assim, o “Éden” proposto pretende chamar atenção para a responsabilidade que temos de preservar as riquezas naturais e, ao mesmo tempo, de combater a misoginia. “A ideia de comunhão com a natureza e de pertencimento foram as premissas que nortearam minha pesquisa. Acredito que tanto a natureza como a mulher não se deixam aprisionar por muito tempo, mas estão sempre em transformação”, completa Camila. Em mostra coletiva, Camila vai expor seus trabalhos junto com o origamista Elder Alves. “Eu sou uma pessoa muito do conjunto, acho que quando compartilhamos crescemos muito mais, então pensei em como juntar meu trabalho com o dele de maneira que conversasse”, conta. Como a aquarela tem a transparência como característica, ela transformou 14 de suas obras em luminárias, fazendo da exposição um belo jardim que integra o origami com a arte abstrata.
A exposição “Éden” será inaugurada nesta terça-feira, dia 8 de novembro, às 19 horas, na Galeria de Vidro, com entrada gratuita. A mostra foi financiada pelo Prêmio Ipê de Artes Visuais, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).
As visitações na Galeria de Vidro, dentro da Esplanada Ferroviária, seguem abertas até 23 de novembro, das 8h às 17h30, na Av. Calógeras nº 3.015.