Após um ano e meio de La Niña ininterrupto, o sistema oceânico-atmosférico do Pacífico tropical está na transição para um El Niño. Cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos Estados Unidos, divulgaram recentemente uma atualização sobre o fenômeno.
As últimas mudanças no oceano e na atmosfera levaram a NOAA a lançar um relógio oficial do El Nino. Isso significa que o fenômeno está começando a se desenvolver.
Há 62% de chance de predominar condições de El Niño, no período de maio a julho deste ano, com previsão de impactos climáticos mundiais na segunda metade do ano, principalmente no próximo verão. Como o El Niño muda o clima globalmente, dificilmente um local do mundo não sente seus efeitos.
Explicação do fenômeno — O El Niño é um fenômeno climático que ocorre na região do Oceano Pacífico tropical. Ele é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do mar e pela mudança nos padrões de ventos e correntes oceânicas nessa região.
O meteorologista da Estação Anhanguera / Uniderp explica que, normalmente, os ventos alísios sopram do leste para o oeste, levando as águas quentes da superfície do Oceano Pacífico para o oeste. “Esse movimento de água quente cria uma zona de baixa pressão atmosférica na região da Indonésia e uma zona de alta pressão atmosférica na região da América do Sul. No entanto, durante o El Niño, os ventos alísios enfraquecem ou até mesmo se invertem, o que faz com que as águas quentes se movam para o leste e se acumulem na região da América do Sul. Isso pode resultar em chuvas intensas, enchentes e deslizamentos de terra em algumas áreas, enquanto outras regiões podem sofrer com secas severas”, declarou.
O El Niño ocorre normalmente a cada dois a sete anos e pode ter impactos significativos no clima global. As consequências do El Niño para o clima brasileiro podem variar dependendo da intensidade e da duração do evento, mas geralmente incluem mudanças significativas nas condições meteorológicas em diferentes regiões do país.
Consequências — Durante o El Niño, a temperatura média da atmosfera tende a subir em muitas regiões do Brasil, especialmente no Sudeste e no Centro-Oeste. O El Niño ainda pode causar uma diminuição da quantidade de chuvas em algumas áreas do país, como no Nordeste e no Norte, o que pode agravar a seca e afetar a produção agrícola nessas regiões. Já em outras regiões do país, como no Sul e no Sudeste, o El Niño pode levar a um aumento da intensidade das chuvas e do risco de enchentes e deslizamentos de terra.
Mato Grosso do Sul — No caso do Estado de Mato Grosso do Sul, o El Niño pode levar a um aumento na produção de grãos devido a um padrão climático específico que ocorre durante o fenômeno.
Durante o El Niño, a região Centro-Oeste do Brasil, onde está localizado o Mato Grosso do Sul, geralmente apresenta uma maior incidência de chuvas, especialmente nos meses de verão. Isso pode beneficiar a produção de grãos, pois as plantas necessitam de água para crescer e se desenvolver. Além disso, o clima mais quente e úmido pode favorecer a proliferação de pragas e doenças, o que pode ser controlado com o uso adequado de defensivos agrícolas.
Outro fator que pode contribuir para o aumento da produção de grãos durante o El Niño é a elevação da temperatura média, que pode acelerar o ciclo de crescimento das plantas e aumentar a produtividade.
O método de estudo — A agência científica do governo dos Estados Unidos (NOAA) é responsável por monitorar e prever as condições meteorológicas, oceanográficas e climáticas em todo o mundo, bem como gerenciar recursos marinhos e costeiros. Essa agência desenvolveu um método para prever a força de um evento El Niño ou La Niña, que combina previsões humanas e previsões de modelos. Esse método tem se mostrado promissor até agora, embora só o estejamos usando há alguns anos. Por esse método, a chance atual de um El Niño forte (Niño-3,4 maior que 1,5 °C) é de cerca de 4 em 10; uma imagem mais clara da força potencial do El Niño se desenvolverá à medida que o evento efetivamente nascer.
Menos furacões — Um evento de El Niño costuma reduzir o número de furacões e sistemas tropicais, no Atlântico Norte. O motivo é o cisalhamento do vento mais forte, impedindo que as tempestades se organizem e aumentem. Além disso, é possível observar tendências muito mais secas na maioria das regiões de tempestades tropicais.
Durante uma temporada de furacões, em um cenário de El Nino, o Golfo do México, o Caribe e a maior parte do Atlântico tropical ficam mais secos do que o normal. Isso resulta sobretudo da pressão mais alta e condições mais estáveis, levando à formação de menos tempestades tropicais e sistemas mais fracos. Portanto, um El Niño pode reduzir muito a chance de um forte furacão atingir os Estados Unidos.
Com informações: Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Estação Meteorológica Anhanguera / Uniderp