Antes das 6h da manhã desta quinta-feira (08/06) as ruas centrais de Campo Grande já estavam repletas de jovens, adultos, adolescentes e até idosos, ocupados na marcação dos locais onde fariam os desenhos para os tapetes “de Corpus Christe” neste ano. Os termômetros apontavam 15°C que não esfriavam a dedicação e fé dos fiéis envolvidos na atividade.
Os voluntários na confecção do tapete de Corpus Christi em Campo Grande se dividiram ao longo de 1,7 Km ao longo das avenidas Afonso Pena, Fernando Correa da Costa e rua 13 de maio. A partir das 7h da manhã, começou o trabalho propriamente dito com a confecção artesanal e artística dos tapetes com serragem, cal, terra, borra de café, areia e tinta colorida.
No meio da manhã, após duas horas intensas de trabalho, o sol já levava os termômetros no centro de Campo Grande próximo aos 30°C. Por isso, além dos encarregados da atividade artística, entre os voluntários havia muitos encarregados de fornecer água e lanches para quem estava debruçado sobre o asfalto dando vida aos desenhos, frases bíblicas e outras demonstrações de fé em forma de tapetes. Esses tapetes forram o caminho por onde deve passar o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, na procissão que acontece no final da tarde.
A explicação dada pelos voluntários para justificar tamanho esforço é demonstrar “amor a Deus que faz tudo por cada um de nós”. Outra fala muito ouvida nas ruas é que “Jesus merece todo o nosso sacrifício e o melhor que podemos preparar no caminho por onde ele vai passar”.
A tradição da festa de Corpus Christi remonta ao século XIII, sendo atribuída a uma visão mística da freira belga Juliana de Mont Cornillon. Juliana alegou ter recebido uma revelação de Jesus Cristo, na qual ele solicitou a instituição de uma festa em honra à Eucaristia, o sacramento da comunhão na Igreja Católica.
Inicialmente, a festa foi celebrada localmente em Liège, na Bélgica, a partir de 1246. No entanto, a devoção a Corpus Christi se espalhou rapidamente, impulsionada pelo apoio do bispo Robert de Thorete e por outros líderes religiosos. A celebração logo ganhou reconhecimento e aprovação papal, e em 1264, o Papa Urbano IV emitiu uma bula papal chamada “Transiturus de hoc mundo”, na qual ele estabeleceu oficialmente a festa de Corpus Christi para toda a Igreja Católica.
A festa de Corpus Christi é celebrada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que ocorre 60 dias após a Páscoa. Durante a celebração, os católicos adoram e veneram a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, porque a fé apostólica declara que o pão e o vinho consagrados se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. O ponto culminante da festa é a procissão solene, na qual o Santíssimo Sacramento é carregado em uma custódia pelas ruas, enquanto os fiéis acompanham em oração e louvor.
A presença real de Jesus Cristo nas espécies do pão e do vinho é um dos fundamentos da fé católica e é principal ponto de diferenciação da prática cristã entre católicos e protestantes. Cristãos não católicos creem que as palavras da Bíblia remetem a um sentido apenas figurado para o pão e vinho, como corpo e sangue do Cristo. Já os católicos creem que durante a missa, acontece o fenômeno da ‘transubstanciação’, em que o pão e o vinho são totalmente transformados no Corpo e Sangue do Filho de Deus.
A celebração de Corpus Christi ficou limitada a pequenas procissões durante o período da pandemia. Após aquele período, a tradição foi retomada com força na arquidiocese de Campo Grande. “É uma grande alegria voltar a celebrar esta festa assim, depois do período de pandemia”, declarou Dom Dimas Lara, arcebispo metropolitano de Campo Grande.
No final da tarde, aconteceu a procissão que, de acordo com a Arquidiocese de Campo Grande, reuniu aproximadamente 30 mil pessoas durante o trajeto até a bênção final.
