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Ex-educandos da Casa Dom Bosco fazem homenagem ao Padre Carlos Rey Estremera

Encontro reúne ex-educandos, ex-colaboradores e salesianos de projeto social que marcou época no centro de Campo Grande há mais de 30 anos

“Valeu a pena!”. Esta foi a frase que marcou a noite de sábado (10/09) no Encontro da Amizade, realizado por ex-educandos e educadores que passaram pela Casa Dom Bosco. O encontro aconteceu na sede da obra social ‘Salesianos Ampare’ e teve o intuito de reunir os meninos e meninas, hoje já adultos, que foram atendidos pela obra social nos anos iniciais de sua criação.

Padre Carlos Rey Estremera, hoje tem 67 anos, nasceu em Pamplona, capital da província de Navarra, situada no norte de Espanha. Veio para o Brasil como missionário no ano de 1978, e em 2000 retornou ao seu país de origem, onde reside até hoje. O salesiano espanhol veio ao Brasil especialmente para o reencontro com os ex-educandos e por isso recebeu uma homenagem, em nome da Câmara Municipal de Campo Grande, com o título de “Visitante Ilustre”, entregue pelo ex-educando e atual vereador da capital, Professor Riverton Francisco de Souza.

História — Quem viveu o final da década de 1980 e início dos anos 1990 em Campo Grande (MS) deve ainda se lembrar da lamentável cena que se podia observar pelas calçadas e praças do centro da cidade, com dezenas de crianças e adolescentes, sujos maltrapilhos, que corriam, brincavam, fumavam e cheiravam cola em plena luz do dia. Dados da época, levantados pela Secretaria Estadual de Assistência Social apontavam pelo menos três grandes grupos de menores em conflito com a lei que perambulavam pelo centro da capital praticando pequenos furtos e assediando a população, pedindo dinheiro ou se drogando. Eles se reuniam em frente ao Mercadão Municipal, na Praça Ary Coelho e na Praça do Rádio Clube.

Em 21 de fevereiro de 1989 a Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT) fundava a Casa Dom Bosco na região central de Campo Grande (MS). Sua criação foi uma resposta ao crescimento do número de crianças e adolescentes que buscavam nas ruas condições de sobrevivência. Assim, multiplicava-se a presença de jovens das mais variadas idades em funções como guardadores de carro, “flanelinhas”, vendedores ambulantes, pedintes, engraxates e outros.

Sob direção do Padre Salesiano Carlos Rey Estremera, a Casa Dom Bosco oportunizava a educação e a promoção humana para aquelas crianças e adolescentes que sofriam abusos e maus tratos, por se encontrarem em situação de extrema vulnerabilidade social. A casa era um local de acolhida para os que buscavam alguma forma de ganhar o sustento durante o dia e voltavam para casa à noite levando para as famílias o pouco que conseguiam, bem como, era abrigo para aqueles que, por diversas situações, não tinham naquele momento, um lar para retornar.

Olhar 67 - Ex-educandos da Casa Dom Bosco fazem homenagem ao Padre Carlos Rey Estremera
Para quem acompanhou o trabalho da Casa Dom Bosco naqueles anos, fica a pergunta: onde estão aquelas crianças e jovens que passaram por essa obra? Foto: Divulgação MSMT

A Casa Dom Bosco funcionou como abrigo ao lado de onde funciona até hoje a sede da Inspetoria de Campo Grande até o ano 2000. Após esse período, a obra se mudou para o Bairro Taquaral Bosque, desenvolvendo ações socioeducativas com crianças e adolescentes.

Para quem acompanhou o trabalho da Casa Dom Bosco naqueles anos, fica a pergunta: onde estão aquelas crianças e jovens que passaram por essa obra? Na tentativa de responder a essa pergunta, alguns egressos prepararam o encontro entre aqueles que frequentaram a casa há 30 anos ou mais, em parceria com a Salesianos Ampare, outra obra social da MSMT que promove a profissionalização de jovens.

Reencontro — O encontro foi repleto de felicidade e nostalgia, com apresentações musicais que relembraram a época em que os presentes estiveram na casa salesiana. Até mesmo a pasta de músicas cifradas usada nos anos 80 e 90 marcou presença. A apresentação musical em homenagem ao Padre Carlos Rey relembrou histórias e ressaltou como a música era usada como instrumento educativo aos atendidos da Casa Dom Bosco.

Imagens da Festa de reencontro dos ex-educandos, colaboradores e salesianos da Casa Dom Bosco. Fotos: Divulgação MSMT

O evento contou com testemunhos emocionantes dos participantes, ex-educandos e ex-colaboradores, que fizeram memória a pessoas que conheceram na obra social, às histórias vividas e, em todos os testemunhos, demonstraram a gratidão pela vivência que tiveram e pelo trabalho dos Salesianos e colaboradores na vida de crianças, adolescentes e jovens que necessitavam de assistência. Um botão de rosa foi a gratidão de forma concreta que os assistidos puderam entregar aos educadores que fizeram parte de suas histórias.

Durante a cerimônia, foi apresentado um vídeo com fotografias históricas da Casa Dom Bosco e dos assistidos. Os presentes puderam se identificar e relembrar as amizades que lá construíram. No vídeo, também fizeram memória aos educandos e colaboradores que já faleceram.

Marcílio Caetano, um dos coordenadores do evento, foi quem conduziu a cerimônia. Na ocasião, convidou o Ir. Fábio Júlio, diretor da obra social Salesianos Ampare, para representar o Inspetor, Padre Ricardo Carlos. Por sua vez, o Ir. Fábio Júlio acolheu a todos e parabenizou a iniciativa da homenagem.

Marcílio, por sua vez, agradeceu em nome de todos os participantes e organizadores do evento, agradeceu o espaço cedido e o apoio dado pelos Salesianos para a realização do Encontro da Amizade. Ele conta com alegria sua trajetória na obra social. “Comecei na Casa Dom Bosco quando criança aos 10 anos de idade e passei também pela Salesianos Ampare. Venho de uma família muito humilde, muito simples e que enfrentou muitas dificuldades, e tanto a Casa Dom Bosco como a Ampare, em nome do Padre Carlos e de todos os educadores, foram a grande diferença na minha vida. Hoje sou professor, por formação, e além disso, coordeno um projeto social pela Prefeitura em Nova Andradina que atende sessenta crianças. Tento fazer tudo aquilo que fizeram por mim, por outros. […] Só sinto gratidão, hoje tenho 43 anos e só consigo sentir gratidão, em nome do Padre, do Inspetor e de todos os educadores. Acredito que o mais importante é que isso não parou. Até hoje a Casa Dom Bosco continua, a Salesianos Ampare continua fazendo nas vidas das crianças, o que fez na nossa. A gente acredita que o resultado sempre vem, e isso é maravilhoso”, comenta.

“Esse encontro já era um sonho do Padre Carlos há muito tempo, e eu vinha sempre para Campo Grande e certo dia pensei: ‘por que não?’. E aí criamos um grupo de WhatsApp, mas veio a pandemia e não deu para fazer. Mesmo assim, começamos a conversar uns com os outros, e o Padre Carlos, mesmo distante me disse: ‘se você fizer, eu vou’. Graças a Deus, todos contribuíram, bem como os salesianos que contribuíram para a vinda do Padre. Isso é um marco na nossa história”, disse.

Padre Carlos Rey Estremera acompanhou as apresentações e testemunhos com os olhos cheios de gratidão por ver tantos atendidos bem encaminhados em seus projetos de vida, bem como se alegrou em conhecer seus familiares, filhos e netos.

Em sua fala, comentou que o ditado popular “aguenta coração” é real, e que relembrar todas estas boas lembranças gerou nele muitas memórias e emoção. “O momento mais importante da minha vida foi o tempo que trabalhei na Casa Dom Bosco. (…) O mais importante que fiz na vida, não foram os estudos, os títulos de universidade, foram os anos que trabalhei no Brasil com a criançada de Campo Grande. E isso é para mim uma grande honra. Agora estou em outra área, fazendo outras coisas, mas isto aqui foi o melhor que fiz. (…) Estou com muita alegria, nunca pensei que vocês aprontariam tanto [risadas].(…) Quero deixar bem claro que o mérito é, na verdade, da equipe de educadores, da Missão Salesiana, e de modo especial, de Deus, que procurou vocês onde quer que estavam, através de pessoas concretas. Porque Deus trabalha sempre assim, através de mediações. Nós fomos apenas instrumentos de Deus. É a Deus que agradecemos, é a Deus que louvamos. Se a vida que vocês têm agora é diferente da que vocês teriam tido, é graças a Deus”, discursou emocionado.

Ao fim de seu discurso, Padre Carlos concedeu sua bênção aos presentes.

A noite seguiu com o jantar, pensado carinhosamente para promover a memória afetiva, com pratos que relembram a época em que estes meninos e meninas viveram na obra social. Também uma sala de jogos e de dança, no estilo discoteca, foram preparadas.

Com informações: Gabriela Vilela / Assistente de Comunicação – MSMT

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