A pesquisa da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro, realizada pela Brasmarket Análise e Investigação de Mercado. Foram entrevistados 2,4 mil eleitores de todo o país entre os dias 18 e 20 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O registro na Justiça Eleitoral é BR-00580/2022.
Os dados foram divulgados na sexta-feira (22) e mostram o presidente Jair Bolsonaro (PL) à frente do levantamento com 44,9%. Na sequência aparece e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 31%. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro com 6,5% das intenções de voto, seguido pela senadora Simone Tebet (MDB) com 4,5. Os demais candidatos não atingiram 1% dos votos. Votos brancos e nulos somaram 6,2%, enquanto eleitores indecisos marcaram 5,7%.
Já a pesquisa do instituto Ipec, contratada pela TV Globo e divulgada na segunda-feira (12/09) sobre a disputa presidencial mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 44% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PL), com 31%. Na sequência, aparecem Ciro Gomes (PDT), com 7%, e Simone Tebet (MDB), com 4%. Felipe D’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil) têm 1%.
As pesquisas de intenção de voto fazem uma leitura de momento, com base em amostras representativas da população. Métodos de entrevistas, a composição e o número da amostra e até mesmo a forma como uma pergunta é feita são fatores que podem influenciar o resultado. Por isso é importante ficar atento às informações de metodologias, disponíveis nos dados das pesquisas registradas junto ao TSE.
No entanto, a diferença gritante entre os resultados apresentados pelos dois institutos expõe a fragilidade do trabalho. Só não é possível saber de qual das duas empresas. Uma das pesquisas tem erro não justificável para uma atividade profissional.
O portal Brasil Paralelo fez uma análise sobre a condição ideológica presente nas pesquisas atuais, não só no Brasil, e alguns dados estão apresentados abaixo.
Como são feitas as pesquisas eleitorais?
Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, segue um resumo aproximado de como são feitas algumas pesquisas:
- cerca de 2000 a 3500 pessoas são entrevistadas;
- as pesquisas duram de 2 a 3 dias;
- os entrevistados estão espalhados entre 150 a 200 municípios;
- a margem de erro costuma ser de 2 pontos percentuais (ex.: se a pesquisa afirma que o candidato Fulano está com 20% de intenção de voto, ele pode ter algo entre 18% e 22%);
- o modelo de pesquisa oferece 95% de confiabilidade. Segundo os institutos de pesquisa, mesmo que mais 100 pessoas fossem entrevistadas, o provável é que 95 respostas seguissem o padrão do que já foi coletado entre o público selecionado.
Esses pontos não excluem intervenções arbitrárias em pesquisas. O cenário ideal considera fidelidade aos resultados e à pesquisa em si. Atualmente, as pesquisas levantam dúvidas quanto a sua confiabilidade.
Um dos pontos que levantam um sinal de alerta para analistas políticos hoje envolve os perfis das amostragens das pesquisas. Informações como: renda salarial, idade, sexo e religião são levadas em conta nas pesquisas.
Os institutos de pesquisa têm usado critérios diferentes para definir o perfil dos entrevistados.
Na pesquisa do Ipec, 57% da população recebe de 0 a 2 salários mínimos. Enquanto na da Quaest, o número cai para 38%. Nenhum dos valores conversa com o último censo do IBGE, em 2010.
Os dados que estipulam os perfis das amostragens não conversam entre si. Alguns institutos usam o censo de 2010 de referência, outros usam dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2021 e há casos em que nenhum desses bancos de dados são utilizados.
Um dos grupos com os votos mais disputados nessas eleições são os evangélicos. Em algumas pesquisas, eles são considerados 25% da população, enquanto outras colocam como 31% ou até 36%.
A imprecisão dos dados aumenta a desconfiança nos resultados.
A Janela de Overton e as pesquisas eleitorais
Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira.
Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.
A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias. Até que ponto as pesquisas não servem como as esquadrias e batentes de uma janela?
As etapas de uma ideia na Janela de Overton são:
- Inaceitável;
- Verossímil (talvez pense nisso);
- Neutralidade (sem opinião formada);
- Provável (é possível concordar);
- Inevitável (ou aceitável).
O conceito foi criado por Joseph P. Overton, para analisar fenômenos de segurança pública. Sua ideia pode ser aplicada a múltiplos cenários sociais.
As pesquisas podem criar a aceitação de cenários que parecem improváveis.
O Brasil conta com uma população de cerca de 215 milhões de habitantes, conforme o censo do IBGE de 2022. Em todo o Brasil, são 5.568 municípios. Enquanto as amostragens contemplam no máximo 3000 pessoas e 200 municípios.
O jornalista Cláudio Dantas do jornal O Antagonista, apurando diferentes resultados de pesquisa, questionou: “qual é a justificativa técnica para essa diferença?”, Dantas vai além: “isso aí virou uma ferramenta eleitoral, de manipulação da opinião pública”.
As pesquisas determinam os rumos das campanhas eleitorais, da opinião compartilhada nos meios de comunicação, tudo isto interfere nos rumos das eleições.
O Tribunal Superior Eleitoral está investigando o crescente número de pesquisas que surgem ao redor do país. Muitos institutos levantam recursos próprios para obter dados, o que pode interferir na lisura do processo.
Segundo dados do próprio TSE, 3.499 pesquisas que seguem esse padrão foram registradas neste ano – 174% a mais na comparação com o mesmo período em 2016 (1.279).
Segundo o jornal O Globo:
“O Ipop Cidades & Negócios lidera o segmento. Em oito meses, investiu R$ 650 mil em 350 pesquisas, em 192 cidades — todas praticamente com o mesmo custo, de R$ 2 mil, independentemente do tamanho da amostra e do local”.
Pesquisas podem realmente demonstrar o que uma amostragem considera sobre o cenário pesquisado, como também podem induzir um grupo a partir da divulgação de resultados alterados.