Desde sua saída antecipada do Brasil, no final da semana passada, a viagem do chefe do executivo brasileiro se mostrou um completo desastre governamental. Sem ter como explicar o envolvimento da cúpula do governo federal com os eventos do dia 8 de janeiro em Brasília, Lula optou pela fuga, a ter que encarar os parlamentares e a parte da imprensa que se mantém isenta na cobertura política e a parte que o apoiava, mas que se mostra arrependida da confiança depositada.
Ao chegar a Portugal, Luís Inácio foi recebido pelo povo português na rua. No entanto, ao invés de aplausos, ouviu xingamentos e um forte coro: “lugar de ladrão é na prisão”, até dentro do parlamento lusitano. Com faixas contra a corrupção, centenas de pessoas foram às ruas lembrando que o petista foi condenado à prisão no âmbito da Operação Lava Jato, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Os manifestantes, puxados pelo líder da oposição portuguesa, o deputado e presidente do CHEGA, André Ventura, chamaram a atenção da imprensa do mundo todo.
A vergonha foi ainda maior durante uma entrevista coletiva, ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, quando fingiu não entender uma pergunta feita no mais claro português, porque expunha a visível reprodução do discurso da Rússia e China na questão da guerra na Ucrânia. A fala do presidente brasileiro foi suficiente para que a gigante estatal da aviação ucraniana, Antonov, desistisse de um investimento de U$50 bilhões no Brasil.
Ainda em Portugal, a primeira-dama esteve em uma loja de grife de Lisboa fazendo compras. De acordo com a assessoria, ela foi comprar uma gravata para o esposo presidente. O gesto foi associado ao comportamento de outros chefes de Estado de países que vivem em regime ditatorial, como Cuba, Nicarágua e Venezuela, que costumam abusar do luxo em roupas, viagens, residências e restaurantes. Para piorar, foi divulgada uma nota fiscal do restaurante em que jantaram Lula e alguns assessores próximos, que aponta uma despesa de € 9.400, o que representa aproximadamente R$ 52.300,00, pagos pelo povo brasileiro.
Durante a sua passagem pela Europa, ainda repercutiam as declarações feitas durante viagem à China, quando Lula afirmou que os Estados Unidos e a União Europeia precisam parar de incentivar a guerra na Europa para que negociações pela paz possam avançar. A resposta dos norte-americanos veio dura. “A ideia de que os EUA não apoiam a paz ou têm algo a ver com o início da guerra simplesmente não tem relação com os fatos. Passamos todo o ano de 2021 tentando evitar que a guerra acontecesse e temos apoiado a paz”, afirmou Juan Gonzalez, diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, em evento organizado pela agência de notícias EFE e realizado na capital americana.
“É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra. Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia sem olhar para os fatos”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, em conversa por telefone com jornalistas.
O que já estava ruim, conseguiu piorar. Na quarta-feira (26/04), já na Espanha, Lula declarou que “a ONU era tão forte que, em 1948, conseguiu criar o Estado de Israel. Em 2023, não consegue criar o Estado palestino”. A fala, além de historicamente falsa, criou um profundo mal-estar com o governo de Israel, que emitiu a seguinte nota:
“Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia da ONU votou uma proposta para dividir o território do mandato britânico em dois estados: judeu e árabe. À frente da reunião da Assembleia das Nações Unidas estava o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. Os judeus – a liderança de cerca de 600 mil pessoas que viviam na área do mandato – concordaram. Os árabes que viviam na área do mandato e os países árabes vizinhos não aceitaram a decisão e lançaram um ataque às aldeias e cidades judaicas e ao estado recém-fundado. Na guerra que nos foi imposta, vencemos e estabelecemos um Estado – o Estado de Israel. A ONU deu a oportunidade do estabelecimento de um Estado Árabe/Palestino em 1947. Os árabes tiveram a oportunidade de estabelecer um estado e o rejeitaram, provavelmente pensando que derrotariam Israel e estabeleceriam um estado em todo o território do mandato britânico relevante.
Quando os palestinos receberam território e governo independente na Faixa de Gaza em 2005, eles escolheram investir o dinheiro internacional que receberam e seus esforços para construir um sistema militar ofensivo contra Israel, e não, por exemplo, no desenvolvimento de infraestrutura e construção de instituições para o bem-estar de seus residentes.
Há uma longa disputa territorial entre Israel e os palestinos, e a decisão sobre o futuro dos territórios disputados deve ser resolvida por meio de negociações bilaterais. Alguns palestinos recorrem a métodos violentos e terroristas na tentativa de alcançar uma solução para a disputa e, portanto, Israel é forçado a agir contra eles e, portanto, a vida de muitos de seus irmãos palestinos é pior do que poderia e deveria ser.
A única forma de resolver a questão é por meio da negociação e não pela violência ou por declarações historicamente infundadas.”