A University College London conduziu uma pesquisa que sugere a transmissão da doença de Alzheimer a cinco indivíduos no Reino Unido por meio de tratamentos envolvendo hormônios hipofisários. Estes casos, possivelmente os primeiros conhecidos, estão ligados ao uso de hormônios de crescimento extraídos de glândulas pituitárias de cadáveres, prática encerrada em torno de 1985.
A demência, frequentemente associada à doença de Alzheimer, afeta cerca de 55 milhões de pessoas globalmente, sendo a falta de um tratamento eficaz um desafio persistente. O experimento com hormônios de cadáveres oferece uma perspectiva para entender os mecanismos ainda enigmáticos da doença.
Em cérebros de pacientes falecidos, é observado o acúmulo anormal de duas proteínas, beta-amiloide e tau. O neurologista John Collinge e sua equipe já haviam alertado em 2015 sobre a presença de placas beta-amiloide em seis indivíduos que, após receberem hormônios de crescimento, morreram de Creutzfeldt-Jakob. Em 2028, pesquisadores identificaram beta-amiloide em lotes de hormônios armazenados por décadas, constatando que tais proteínas causavam demência em ratos de laboratório.
Os cinco casos identificados pela equipe britânica receberam hormônios de crescimento de cadáveres por vários anos, desenvolvendo sintomas de demência entre 38 e 55 anos, mesmo sem as variantes genéticas associadas a outros casos iniciais. A descoberta foi publicada nesta segunda-feira (29/01) na revista Nature Medicine.
Collinge e sua equipe afirmam que os tratamentos hormonais com cadáveres foram gradualmente eliminados décadas atrás, e não há evidências de transmissão de beta-amiloide em outros contextos além dos procedimentos cirúrgicos invasivos. No entanto, os autores sugerem uma revisão das medidas atuais para prevenir a transmissão acidental da doença de Alzheimer em procedimentos neurocirúrgicos, enfatizando a necessidade de descontaminação adequada dos instrumentos utilizados.