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Aprenda de uma vez por todas: fascismo e nazismo são regimes políticos de esquerda

As raízes socialistas do fascismo italiano

A associação do fascismo à direita política tem sido repetida com frequência, mas ignora os fatos históricos sobre a origem desse regime. Benito Mussolini, antes de fundar o Partido Nacional Fascista, foi militante e líder do Partido Socialista Italiano. Foi editor do jornal socialista Avanti! e defensor do marxismo revolucionário. A ruptura com os socialistas se deu não por divergência econômica, mas por sua adesão ao nacionalismo italiano durante a Primeira Guerra Mundial.

Apesar da nova roupagem ideológica, o fascismo manteve os princípios de estatização e controle social típicos da esquerda. A política econômica de Mussolini apostou no dirigismo estatal, na repressão ao livre mercado e na intervenção do Estado nas relações trabalhistas e empresariais. A ideia central do fascismo era: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado” — uma máxima claramente incompatível com os ideais liberais defendidos por correntes da direita.

Nazismo e socialismo: proximidade evidente

No caso alemão, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, liderado por Adolf Hitler, apresenta desde sua nomenclatura o termo “socialista”. Embora muitos estudiosos defendam que o nazismo apropriou-se do termo apenas por estratégia política, os documentos e discursos iniciais do partido e de seu líder máximo revelam uma plataforma antiliberal e fortemente coletivista.

O programa de 1920 do partido nazista exigia, entre outros pontos, a nacionalização de grandes empresas, a abolição da renda obtida por meio de juros, a reforma agrária, e o controle estatal da educação e da imprensa. Além disso, o regime eliminou a liberdade de iniciativa e subordinou a economia ao Estado — características estas que colidem com qualquer concepção de uma política liberal-conservadora de direita.

O culto ao Estado: traço comum dos regimes de esquerda

Uma característica essencial tanto no fascismo quanto no nazismo é o culto ao Estado como entidade absoluta. Ambos os regimes aboliram as liberdades individuais em nome de um projeto coletivo centralizado. O Estado controlava a economia, a cultura, a educação e a vida privada dos cidadãos. A repressão política e o monopólio da informação eram instrumentos para garantir a unidade e submissão à autoridade central.

Essa estrutura política totalitária encontra paralelos evidentes em regimes socialistas modernos. Em países como Cuba, Coreia do Norte e Venezuela, o Estado exerce poder absoluto sobre todas as esferas da vida social e econômica. As eleições são controladas, a imprensa é censurada e a propriedade privada é suprimida. Ainda que adotem discursos diferentes, as práticas centralizadoras e autoritárias são as mesmas.

A confusão ideológica e o desafio do estudo histórico

A associação de fascismo e nazismo à direita muitas vezes resulta de uma leitura ideológica da história, não de uma análise criteriosa dos fatos. A simplificação binária que divide o espectro político entre “esquerda” e “direita” prejudica a compreensão das verdadeiras dinâmicas ideológicas que marcaram o século XX.

Historiadores e pesquisadores que adotam abordagens mais rigorosas apontam que tanto o fascismo quanto o nazismo devem ser classificados como variantes do socialismo nacionalista e autoritário. Suas políticas econômicas, estrutura estatal e visão de sociedade subordinada ao coletivo contradizem as premissas fundamentais do liberalismo de direita, que valoriza a liberdade individual e a limitação do poder estatal.

Estudar história: uma necessidade urgente

A persistência em rotular fascismo e nazismo como movimentos de direita revela não apenas desinformação, mas também a falta de disposição para estudar história com profundidade. Revisitar documentos originais, discursos dos líderes, e a prática política dos regimes é essencial para formar um juízo crítico.

Se, após essa análise, alguém ainda insiste em associar fascismo e nazismo à direita, talvez o que falte não seja argumento — mas sim estudo sério e honesto da história.


Referências bibliográficas

  • GENTILE, Emilio. Fascismo: história e interpretação. São Paulo: Editora UNESP, 2011.
  • EATWELL, Roger. Fascismo: uma história concisa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
  • PAYNE, Stanley G. História do fascismo. São Paulo: Editora Contexto, 1999.
  • HITLER, Adolf. Mein Kampf: Minha Luta. Tradução de Kurt Gerhard Schrader. São Paulo: Centauro, 2001.
  • CORTÉS, Rodolfo. Socialismo, fascismo e comunismo: diferenças e semelhanças. Lisboa: Editorial Presença, 2015.
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